NILSON COMENTA “MICO PRETO”
*Por Nilson Xavier
Sabe aquela novela “trash”?, não fez sucesso mas você amava? Em minha relação destaco a incompreendida “Mico Preto“, apresentada em 1990 às 19 horas, dirigida por Denis Carvalho e Denise Saraceni, escrita por um trio de autores Marcílio Moraes, Leonor Bassères e Euclydes Marinho. O público não gostou da história cínica com humor debochado. A audiência não correspondeu à expectativa de Globo e os autores “largaram mão”, como se costuma dizer: no último capítulo, teve até personagem reclamando da novela para o público!
Tinha a figura de Zé Luis, um gay afetadíssimo vivido por Miguel Falabella que sofria por não poder assumir seu romance com um político que não queria sair do armário para não comprometer sua carreira (Marcelo Picchi).
Tinha Otávio Augusto, sempre engraçado quando apela para o humor, apaixonado por Eva Wilma, uma dona de casa cinquentona para lá de comum – repetindo uma dobradinha já vista em “Transas e Caretas”, em 1984. Tinha Márcia Real, uma ricaça que “dava um chapéu” nos filhos interesseiros – um tipo que Marcia sabe fazer tão bem!
Tinha Gloria Pires em papel posterior à sua inesquecível Maria de Fátima de “Vale Tudo” e apresentando a atriz em uma caracterização tão diferente que assustou num primeiro momento: Gloria estava gorda, de cabelos cacheados e compridos e sua personagem era muito cafona! E o que falar da mãe de Gloria na novela, vivida por Geórgia Gomide, uma mulher tão vulgar que chegava a ser imoral! Inusitado era o romance de sua personagem, Eroltildes (nome mais que apropriado) com a figura de Elias Gleizer! Era um deboche só!
Mas o grande barato de “Mico Preto” era Firmino do Espírito Santo, mais uma ótima criação de Luiz Gustavo. Nunca um tema de abertura explicou tão bem a personalidade e o “psyche du role” de um protagonista como a música de Gilberto Gil:
“Se um bacana me chuta eu peço desculpa em que luta pra não complicar.
Se me chamar de bagaço, agradeço, obrigado, um abraço, é isso aí, até já!
Não tenho tempo pra sarro, o sapato furou, acabou o cigarro,
meu time perdeu, guincharam meu carro, pisaram no meu calo
e até a comida o cahorro comeu…
A vida é assim e até minha gata dá pra todo mundo só não dá pra mim!“
Foto e Vídeo: Divulgação/Youtube
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* Nilson Xavier é criador do site Teledramaturgia e autor do livro “Almanaque da Telenovela Brasileira”. Esta coluna é publicada todos os finais de semana no Zappiando.